O comprimento do cabo coaxial
Folclore versus técnica.
Atualizada em
16/02/2012
Por PY4ZBZ
Link original :
http://www.qsl.net/py4zbz/antenas/comcabo.htm
No mundo dos radioamadores, existem
muitas lendas, erros e falsas afirmações a respeito do comprimento
do cabo coaxial (ou linha bifilar) usado para interligar a antena ao
equipamento transceptor.
Tentarei explicar, (baseado na
bibliografia relacionada abaixo) o que realmente acontece e
porque há tanta confusão...
Definições usadas nesse texto:
L =
comprimento elétrico do cabo ou linha, em comprimentos de
onda. (cabo ou linha: sinônimos)
Para transformar comprimento elétrico
L (dado em comprimentos de onda) , em comprimento físico do
cabo, basta multiplicar L pelo comprimento de onda no ar e
pelo fator de velocidade do cabo. O fator de velocidade do
cabo depende exclusivamente da constante dielétrica do isolante
usado para separar o condutor interno da blindagem, e corresponde a
razão entre a velocidade com a qual a energia elétrica circula nesse
cabo e a velocidade da luz no ar. Fatores de velocidade mais comuns
para cabos coaxiais são: 0,66 em cabos com polietileno, e 0,82 em
cabos com polietileno expandido ou celular.
O comprimento de onda no ar, em metros, é 300/F, onde F
é a freqüência em MHz. A constante 300 nada mais é que a velocidade
da luz no ar em Megametros por segundos. Portanto 75/F
fornece o comprimento de 1/4 de onda no ar.
Zo =
impedância característica do cabo ou da linha, que na
pratica sempre tem um valor puramente resistivo Zo=Ro (parte
reativa jX=0 ou desprezível).
Para aplicações gerais em RF de
potencia, o valor padronizado mais usado para impedância
característica de cabo coaxiais é 50 ohms. Esse valor não foi
escolhido ao acaso, mas como sendo o melhor compromisso entro o
valor para o qual o cabo suporta a maior potencia (o que acontece
com Zo=30 ohms) e o valor para o qual o cabo apresenta a menor
atenuação (o que acontece com Zo=77 ohms), para um mesmo diâmetro
interno da blindagem do cabo coaxial.
(Por exemplo, cabos de 75 ohms são muito usados em aplicações da
baixa potencia e grandes comprimentos, onde é importante ter pouca
atenuação, como em TV a cabo ou circuitos de vídeo em estúdios de
TV, ou interligação de LNB ao receptor TVRO de satélite.)
Za = impedância da carga ou antena ligada no final do cabo.
Za = Ra+jXa. Za é puramente resistiva apenas na freqüência
de ressonância da antena.
ROE = relação de onda estacionaria. (SWR em inglês.
Não
tem unidade, e pode variar de 1 a infinito). A ROE só faz
sentido com relação a uma impedância de referencia, que
normalmente é a impedância do cabo no qual é feita a medição ou
calculo.
Relações básicas: ROE = Za/Zo para Za>Zo ou Zo/Za
para Za<Zo.
Importante: estas relações só valem para Za puramente
resistivo (jXa=0). Caso contrario, a formula é:
Na formula acima, r (Rho),
é o coeficiente de reflexão de tensão e é igual a relação
da tensão refletida pela tensão incidente. Numa linha casada, ou
seja, terminada por uma carga igual a sua impedância característica,
esse coeficiente vale zero, pois não há tensão, nem corrente e nem
potencia refletida. Nesta linha somente existe uma onda
progressiva direta, do gerador para a carga, de potencia, tensão
e corrente, direta ou incidente. A onda direta circula no
cabo com a velocidade da luz multiplicada pelo fator de
velocidade do cabo.
Quando a linha não está
casada, parte da potencia incidente na
carga é refletida, portanto criando tensão e corrente
refletidas, gerando uma onda progressiva refletida, da carga
para o gerador. Como temos agora duas ondas progressivas circulando
em sentidos contrários e com a mesma velocidade, a
interferência ou soma destas duas ondas progressivas gera uma
onda parada ou ESTACIONARIA. Em determinados lugares do cabo,
separados de meio comprimento de onda no cabo, as tensões incidentes
e refletidas estão em fase e portanto se somam, dando origem
a pontos de máxima tensão ou ventres. Em outros lugares,
situados a um quarto de onda dos ventres de tensão, as tensões
direta e refletida estão em oposição de fase e portanto se
subtraindo, causando mínimos de tensão ou nós.
A relação entre estes máximos e mínimos de tensão é
chamada de Relação de Onda Estacionaria, ROE
(SWR em inglês).
Importante
(para a transmissão):
Do lado da antena : A
impedância Za da antena define a ROE no CABO.
ROE=1 ocorre quando Za=Zo e é a condição para a qual a antena não
reflete potencia de volta para o cabo. A antena funciona como
carga para o cabo.
Do lado do transceptor
: a impedância apresentada pelo cabo deve ser igual a impedância
interna do transceptor para que haja máxima transferência de
potencia do transmissor para o cabo. A impedância apresentada pelo
cabo funciona como carga para o transmissor. Na recepção, acontece
tudo ao contrario.
A ROE medida no cabo (com
atenuação não desprezível) do lado do transceptor, é
SEMPRE melhor (menor) que a verdadeira ROE existente do
lado da antena ! Veja aqui com o
calculador o efeito da atenuação sobre a ROE.
Pode se demonstrar
matematicamente e comprovar experimentalmente que:
A - O comprimento do cabo não tem a menor
importância quando é usado para interligar uma antena com um
transmissor, desde que as impedâncias da antena, do transmissor e do
cabo sejam iguais entre si.
Está é uma condição fundamental e sempre satisfeita em projetos
profissionais.
Apenas não se deve esquecer que quando mais comprido, maiores serão
as perdas no cabo, pois a atenuação do cabo (em dB) é
linearmente proporcional ao seu comprimento, e é proporcional a raiz
quadrada da variação de freqüência, quando o cabo está ligado a uma
carga casada Za=Zo (ROE=1). Caso contrario, as perdas serão
ainda maiores e dependendo da ROE.
Portanto, na pratica, deve se usar sempre o menor comprimento de
cabo possível !
Esta é a única exigência com relação ao comprimento do cabo, em
projetos bem feitos, para interligar transceptor e antena!
Neste caso, o cabo coaxial ou a
linha bifilar são usados como linhas de transmissão,
ou seja, como meio de transmitir energia elétrica de um ponto a
outro, com a menor perda ou atenuação possível. Mas esta e outras
características elétricas da linha são muitas vezes usadas com
outras finalidades (além de transportar energia), como por exemplo
as listadas a seguir.
Obs.: Tem autores que recomendam
que o cabo tenha um comprimento igual a
múltiplos impares de 1/4 de onda, para que, no caso de ocorrer
um curto-circuito na antena, a impedância apresentada pela entrada
do cabo seja infinita, e assim, "aparentemente", não causar danos ao
equipamento ! Acontece que o dano causado ao equipamento (que não
possui circuito de proteção contra ROE alta) é EXATAMENTE o mesmo
em circuito aberto ou em curto-circuito, pois nos dois casos,
TODA a potencia é refletida de volta para o transmissor,
simplesmente porque nos dois casos o coeficiente de reflexão de
potencia (e de tensão e corrente) é UM (100%) e a ROE é
INFINITA ! Portanto, proceder desta maneira apenas resulta em
mais custo e perdas (atenuação) no cabo. Essa idéia de que um
curto-circuito é pior que um circuito aberto é valida em corrente
continua e baixa freqüência, onde os geradores tem normalmente
BAIXISSIMA resistência interna (miliohms). Não se aplica para
geradores de RF (transmissores) onde a resistência interna é alta
(geralmente da ordem de 50 ohms) comparada a resistência interna de
um alternador ou bateria.
B - O comprimento do cabo é fundamental nos
casos básicos seguintes:
1 - quando o cabo é usado como defasador.
2 - quando o cabo é usado como transformador de impedância.
3 - quando o cabo é usado como linha de retardo.
(ou quando se quer obter uma combinação dos casos anteriores)
4 - quando se quer obter na entrada do cabo a mesma impedância da
carga ligada na sua saída, mas usando um cabo com impedância
diferente das duas. ou seja, para transferir uma determinada
impedância de um ponto a outro, sem transformação de impedância, mas
arcando com os efeitos causados pela ROE diferente de 1 neste cabo.
5 - quando o cabo é usado como toco de linha (stub em
inglês), aberto ou em curto, para obter uma determinada reatância
indutiva ou capacitiva, numa determinada freqüência, substituindo
indutores ou capacitores convencionais; ou para obter um
comportamento em freqüência equivalente a um circuito LC serie ou
paralelo convencional.
Exemplos práticos muito usados correspondentes aos casos numerados
anteriormente citados:
1 - para ligar em paralelo antenas, transmissores, cabos, etc...;
BALUNs 1/1 e
4/1; circuitos híbridos; duplexadores, circuitos de derivação,
etc...
2 - transformadores de 1/4 de onda, de 1/12 de onda, Q match, etc...
3 - geração de retardo, memória analógica,
refletrometria no domínio do tempo, etc...
4 - medições e testes, ligações em paralelo, prolongar fisicamente
cabos de 1/4 de onda mantendo a sua propriedade de transformador de
impedância, etc...
5 - na confecção de filtros, adaptadores de impedância, duplexadores,
etc...
Casos específicos de
radioamadores.
A maioria de equipamentos para radioamadores tem impedância nominal
de 50 ohms, simplesmente porque este é o valor mais usado para
equipamentos de RF em geral. É portanto fundamental que os cabos
conectados a estes equipamentos também tenham uma impedância
característica de 50 ohms.
Acontece que muitas antenas simples para ondas curtas, como dipolos
lineares e seus derivados, não apresentam uma impedância de 50 ohms.
Um exemplo típico é o dipolo de meia onda, que no espaço livre tem
uma impedância da ordem de 75 ohms, na ressonância e alimentado no
centro. Mas esta impedância varia muito, dependendo da altura do
dipolo em relação ao solo e da presença de outros obstáculos. Se o
dipolo estiver deformado, em V invertido por exemplo, ou se não
tiver comprimento igual a meia onda, como na G5RV por exemplo, a
impedância muda muito mais ainda, podendo ultrapassar valores
resistivos da faixa de 10 a 200 ohms, e podendo apresentar uma alta
componente reativa.
As duas únicas formas de se saber o valor da impedância de uma
antena qualquer são : medição com instrumentação adequada ou
simulação via programa de computador (como por exemplo o
MMANA).
Portanto, para se ligar um dipolo de meia onda, situado muito longe
do solo, e que apresenta uma impedância próxima de 75 ohms, deve ser
usado um cabo de 75 ohms, de qualquer comprimento. Obtém-se assim
uma ROE=1 no cabo de 75 ohms. Mas o transmissor também deveria ser
projetado para ter 75 ohms de impedância de saída, para que
transfira a máxima potencia para o cabo. Transmissores antigos a
válvulas, com saída em PI ajustável, permitem obter essa impedância
de saída, simplesmente ajustando o PI para máxima potencia de saída.
Mas transmissores transistorizados são fabricados para terem 50 ohms
de impedância interna e não há possibilidade de ajuste. Nesse caso
pode ser usado um acoplador de antenas cuja finalidade será
simplesmente transformar os 75 ohms do cabo nos 50 ohms do
transmissor, casando assim perfeitamente cabo com transmissor.
Um erro muito comum é fazer medições de ROE em cabos de 75 ohms com
instrumentos calibrados com referencia de 50 ohms. No exemplo
anterior, um medidor de ROE, calibrado para 50 ohms, ligado entre
transmissor e cabo, indicará uma ROE de 1,5 ! mas a ROE verdadeira
no cabo é de 1 !
Se para esta mesma antena quisermos usar um cabo de 50 ohms, devemos
primeiro transformar a impedância de 75 ohms da antena para 50 ohms.
Isto poderia ser feito por um acoplador e antenas colocado
diretamente na antena, o que evidentemente não é nada pratico!
É exatamente neste ponto que podemos usar um ou dois pedaços de
cabos, com impedâncias e comprimentos certos, funcionando como
transformador de impedância. Existem ainda muitos outros métodos
para se obter a impedância desejada, como circuitos LC, Gama ou
Delta matchs, etc..., mas mostraremos aqui apenas o uso de cabos.
O cabo como defasador.
Qualquer linha de transmissão atua com
defasador. O defasamento é proporcional ao comprimento do cabo, pois
a cada comprimento de onda, introduz 360 graus de atraso. O angulo
A de atraso entre entrada e saída do cabo (com saída casada),
em função do seu comprimento elétrico L, é dado pela formula
seguinte, em graus:
A = 360 x L
Lembramos que o comprimento
elétrico L de um cabo é igual ao seu comprimento
físico, dividido pelo fator de velocidade do cabo, e
dividido pelo comprimento de onda no ar. (vide definição
anterior). Por exemplo, um cabo com 16,5 cm de comprimento físico e
fator de velocidade de 0,66 e operando numa freqüência de 150 MHz,
equivalente a 200 cm de comprimento de onda no ar, tem um
comprimento elétrico L igual a :
33 / (200x0,66) = 0,125 = 1/8 de
onda,
e provoca um defasamento de 360 x
1/8 = 360 x 0,125 = 45 graus
Uma aplicação do cabo como defasador é
permitir obter
polarização circular usando duas antenas de polarização
linear em planos ortogonais, alimentadas com defasamento
adequado. Este defasamento pode ser obtido fisicamente
deslocando relativamente as duas antenas no sentido da propagação
ou eletricamente através de cabos de comprimentos diferentes, ou uma
combinação dos dois métodos.
O cabo como transformador de
impedância.
Detalhe importante : é impossível
transformar uma impedância Z qualquer e diferente de Zo,
para Zo=Ro+j0 , usando um cabo com impedância característica
Zo.
Para conseguir esta transformação, obrigatoriamente deve ser usado
pelo menos um pedaço de cabo com impedância diferente de Zo !
Existem exemplos ERRADOS na Internet ou em revistas, onde o autor
usa cabo de 50 ohms para transformar um impedância diferente de 50
ohms, em 50 ohms! isso é simplesmente impossível . O erro mais
comum é o de usar o valor do conjugado (modulo da soma vetorial da
parte resistiva com a parte reativa) da impedância complexa da
antena, na formula simplificada do calculo de ROE, citada
anteriormente. Esta é uma das causas de confusões.
Outra observação importante: pedaços de cabos usados como
transformadores de impedância somente podem ser usados em uma única
banda relativamente estreita de freqüências.
Resumindo o comportamento do cabo como transformador de
impedância:
a - Um cabo terminado por uma impedância de carga Za IGUAL a sua
impedância característica Zo, sempre apresenta como impedância de
entrada Ze o mesmo valor de Za ou Zo, independentemente do seu
comprimento.
b - Um cabo terminado por uma impedância de carga Za DIFERENTE de Zo
somente apresenta como impedância de entrada Ze o valor de Za , se o
cabo tiver comprimento elétrico igual a múltiplos inteiros de meia
onda.
c - Um cabo somente transforma uma impedância de carga Za em outro
valor se tiver comprimento elétrico diferente de múltiplos inteiros
de meia onda E tiver impedância característica Zo DIFERENTE de Za.
d - É impossível transformar uma impedância Z=R+jX qualquer e
diferente de Zo, para Zo=Ro+j0 , usando um cabo com impedância Zo.
Simplificando:
A linha de meia onda tem a
propriedade de "repetir" a impedância que está na sua saída,
isto é, não transforma impedância.
A linha de um quarto de onda
tem a propriedade de transformar um curto-circuito em um
isolante e vice-versa, isto é, provoca a maior transformação
de impedância possível. Linhas de comprimentos intermediários,
com impedâncias adequadas, permitem certas transformações, e
combinadas (duas, três ou mais), permitem também qualquer
transformação. (exemplo: transformador de Regier)
Existem basicamente duas formas para usar um cabo como
transformador de impedância: o cabo de 1/4 de onda, ou o
sistema serie de dois cabos também conhecido como
transformador de Regier ou "Q match".
1 - O cabo de 1/4 de onda é o mais simples, mas nem sempre
existe comercialmente o cabo com a impedância Zo necessária. Um cabo
com 1/4 de onda de comprimento elétrico tem a propriedade de poder
transformar uma impedância Zs (ligada na sua saída) em outra Ze
(apresentada na sua entrada) pela relação seguinte: o produto de
Ze por Zs é igual ao quadrado de Zo. Ou de outra forma, a
impedância Zo que o cabo de 1/4 de onda deve ter para transformar Zs
em Ze é igual a raiz quadrada do produto de Ze por Zs.
Exemplo 1: para transformar 75 ohms em 50 ohms, a impedância
do cabo deve ser de raiz de 75x50, ou seja: 61,2 ohms, o que não é
um valor facilmente encontrado.
2 - Nesse caso, e alias em qualquer caso, a forma mais elegante e
eficiente é o
transformador serie de Regier (OD5CG), ou chamado "Q match"
no MMANA, ou ainda "Series matching".
Este transformador é constituído de dois pedaços de cabo em serie,
com comprimentos elétricos L1 e L2 e impedâncias
características Z1 e Z2 comercialmente disponíveis. Veja aqui
um calculador para este caso: o
SMC.
O cabo com impedância Z2 é ligado à carga Zs (ou antena, Za) e o
cabo com impedância Z1 apresenta na sua entra a impedância Ze, ponto
onde será ligado o cabo principal (normalmente de 50 ohms) até o
transceptor.
Quando as impedâncias Ze e Zs são iguais respectivamente a Z2 e Z1,
então temos um caso particular de
transformador de 1/12 de onda, porque nesse caso os
comprimentos L1 e L2 são iguais e com valor um pouco inferior a 1/12
de onda, dependendo da razão entre Z1 e Z2.
Exemplo 2: para transformar 75 ohms em 50 ohms, basta ligar
em serie dois cabos de 0,0815 comprimentos de onda, um com 50 ohms e
outro com 75 ohms. Observe que é um valor muito próximo de 1/12 =
0,0833. Por exemplo, para ligar qualquer antena com impedância de 75
ohms a um cabo de 50 ohms, basta ligar na antena um pedaço de 0,0815
comprimentos de onda de cabo de 50 ohms, seguido por um pedaço de
0,0815 comprimentos de onda de cabo de 75 ohms, e a partir deste
ponto, qualquer comprimento do cabo principal de 50 ohms, até chegar
ao transceptor.
O programa MMANA também permite calcular este transformador "Q
match" para qualquer antena ou carga, e de maneira instantânea.
Mas infelizmente, a grande maioria de radioamadores não tem
conhecimentos técnicos (em linhas de transmissão, antenas, números
complexos, etc...) suficientes para saber usar corretamente
programas do nível do MMANA ou as formulas correspondentes e
bastante complicadas. Por isso surgiram inúmeras formulas mágicas e
outras bobagens a respeito de comprimento de cabos, antenas e outros
assuntos relacionados.
Vamos mostrar mais alguns exemplos.
Exemplo 3:
A impedância do dipolo de meia onda é da ordem de 75 ohms no espaço
livre, o que acontece somente quando o dipolo estiver no mínimo a um
comprimento de onda acima do solo. É bastante difícil ter um dipolo
para 40 metros situado no mínimo a 40 de altura!
Esse dipolo, se estiver a 14 metros de altura, apresenta uma
impedância de aproximadamente 100 ohms, na ressonância. Se usarmos
um cabo de 1/4 de onda, com 73 ohms de impedância característica
(por ex. RG59U), conseguimos transformar os 100 ohms em
73x73/100=53,3 ohms, bastante próximo dos 50 ohms desejados. O
comprimento deste cabo transformador de impedância de 1/4 de onda,
em metros, deverá ser de 75x0,66/F, onde F é a freqüência em MHz, e
0,66 o fator de velocidade do RG59U (e 75 a constante explicada
anteriormente). Para F=7,1 MHz, esse cabo de 1/4 de onda devera ter
6,97 metros. Na sua ponta oposta à antena, podemos então ligar um
cabo de 50 ohms, com qualquer comprimento, porém na pratica o
suficiente para chegar até o transceptor!. A ROE nesse cabo de 50
ohms será de 53,3/50=1,06, (ou ainda: 1,06 por um) o que é ótimo.
Exemplo 4:
Para ligar qualquer antena com 50 ohms a um transceptor de 50 ohms,
mas, por algum motivo, usando um cabo com Zo=Zx diferente de 50
ohms, devemos usar um cabo com comprimento igual a múltiplos
inteiros de meia onda, que é uma aplicação do caso 4.
A linha de meia onda tem a propriedade de transferir o valor da
carga para a sua entrada. Simplesmente porque na linha de 1/2 onda,
o defasamento entre tensões e correntes diretas e refletidas, na sua
entrada, é de um comprimento de onda (1/2 na ida mais 1/2 na volta).
Uma onda inteira corresponde a 360 graus de defasamento, ou seja,
vetorialmente o mesmo que ZERO graus. Mas isso tem e seu preço: a
ROE nesse cabo será sempre maior que 1, o que causa entre outras
coisas um aumento da sua atenuação. E pelo fato do cabo ter
comprimento imposto em múltiplo de meia onda, ele terá sempre um
comprimento maior que o necessário, o que causa mais perdas ainda.
Portanto, este procedimento deve ser evitado. Uma linha de meia onda
também equivale a duas linhas de um quarto de onda em serie e
portanto causam duas transformações de impedâncias iguais e
simétricas, voltando a impedância original...
Observação: um medidor de ROE (calibrado para 50 ohms) ligado entre
o transceptor e o cabo indicará uma ROE igual a 1, que é a ROE na
entrada do cabo com relação a 50 ohms. Mas no cabo todo a ROE não é
1, mas Zx/50 ou 50/Zx. Por exemplo, se o cabo for de 75 ohms, a ROE
no cabo será igual a 1,5 (ref.=75 ohms).
Exemplo 5:
Existem antenas que já incorporam no
seu projeto uma linha usada como transformador de impedância.
Citarei como exemplos a G5RV e a "J pole":
- A
G5RV foi
desenvolvida por
Louis Varney,
na época dos transmissores a válvulas, onde sempre havia um circuito
de saída ajustável. Por isso, o seu autor não se preocupou em obter
50 ou 75 ohms em todas as bandas, o que alias é totalmente
impossível para uma antena dipolo operando como multibanda. Pode ser
verificado com o MMANA que o dipolo da G5RV (comprimento
total de 3/2 onda em 20 metros) apresenta impedâncias
completamente estranhas (coisas do tipo: 400-j1000 ou pior!) em
todas as bandas, menos em 20 metros onde é menos ruim . Por isso o
seu autor usou uma linha bifilar auxiliar, com impedância
evidentemente diferente de 50 e 75 ohms (em torno de 500 ohms),
ligada entre o dipolo e o cabo principal de 50 ou 75 ohms. Esta
linha, apesar de ter um comprimento físico fixo (igual a meia
onda em 20 metros, para manter a simplicidade do projeto), tem um
comprimento elétrico diferente em cada banda, e que foi
escolhido (tarefa difícil!) de tal forma a transformar estas
impedâncias inviáveis em outras mais próximas de 50 ou 75 ohms, na
maioria das bandas, mesmo piorando pelo menos uma que já estava
razoável.... Tudo tem seu preço ! Mesmo assim, obtém-se valores
ainda longe de 50 ohms, mas nada que um bom circuito em PI ou
semelhante não aceite. Donde o sucesso da G5RV, principalmente na
era das válvulas ! Porém, ligar uma G5RV a um transceptor
transistorizado sem acoplador de antena, nem pensar ! O caso da G5RV
não pode ser totalmente resolvido com uma linha atuando como
transformador de impedância, pois a antena é multibanda. Deveria se
usar uma linha de 1/4 ou um Q match para cada banda, com chaves ou
relés de comutação, o que evidentemente acaba com a simplicidade
desejada pelo G5RV.
- A antena J (vertical) nada
mais é que um dipolo vertical de meia onda que, em vez
de ser alimentado pelo centro, é alimentado pela sua ponta
inferior. (Fisicamente, o dipolo de meia onda é a parte do elemento
maior da antena que fica acima da perna menor do "J".) Alimentado no
centro, apresentaria 75 ohms, mas pela ponta, o dipolo apresenta uma
impedância resistiva da ordem de 2000 ohms ! É portanto preciso
transformar 2000 em 50. Nada que uma boa linha de 1/4 de onda, com
"raiz de 2000x50"=316 ohms, não possa fazer ! Há duas formas de
alimentar esta linha de 1/4 de onda: pela extremidade inferior
aberta (antena OSJ= open stub J), ou curto-circuitando esta
extremidade e procurando o ponto na linha onde a impedância é 50
ohms, muito usado na pratica, pois permite que toda a antena seja
aterrada em corrente continua (proteção contra raios). Existe a
versão onde a linha de 1/4 de onda é bifilar, (fisicamente,
dois condutores: um é a perna menor do "J" e o outro é a parte
paralela e de mesmo comprimento do elemento maior) e portanto onde
deveria ser usado um balun para ligar o coaxial.
Veja aqui
mais informações sobre a antena J, OSJ e OSJ dual band. A outra
versão, que usa uma linha coaxial de 1/4 de onda, também é
conhecida como antena Topfkreis
(veja aqui
um exemplo em detalhes) e que dispensa o balun.
(A ser continuado...)
Veja
aqui um calculador que mostra as relações básicas em linhas de
transmissão de RF, e o efeito da atenuação sobre a ROE nos dois
extremos da linha.
Faça o download do programa
ROE.exe, que
permite ver interativamente as relações entre diversos parâmetros
básicos de um sistema Transmissor-Cabo-Antena, como ROE, potências,
perdas, etc...
Veja aqui um calculador de ROE, em
função de cabos e cargas, mais detalhado, e com ábaco de Smith, de
AC6LA.
Bibliografia:
The Arrl Handbook for Radio
Communications (Arrl Handbook for Radio Amateurs). American Radio
Relay League.
Linhas de transmissão. Robert A.
Shipman. McGraw-hill.
Sistemas Radiovisibilidade.
Gilberto Silva e O. Barradas, Embratel. Livros técnicos e
científicos S.A.
Electronic applications of the Smith
chart. Phillip H. Smith. McGraw-Hill.
Microwave theory and applications.
Stephen Adam, Hewlett-Packard. Prentice-Hall.
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